terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O Lombo e a Lombada (Crônica)

Numa boa, caros leitores, tem marido que merece levar uma chinelada de havaiana de pau no meio da cara. Direi a vocês o porquê. A seguir:

Estava eu voltando para casa após confraternizar-me com minha família. Festejamos o Natal de uma forma muito bacana, de acordo com o que penso sobre esta data. Vou dirigindo vagarosamente durante o percurso até minha humilde residência (pois neste período de Festas de Final de Ano algumas pessoas bebem mais do que já bebem e, pasmem, DIRIGEM). Então, conduzo meu veículo prestando atenção por mim e pelos outros. 

Ao passar por uma pequena rua, me deparo com uma lombada. Ok, vamos cuidar da segurança dos pedestres e de desavisados que andam pela rua achando que são carros. Olho para o lado esquerdo e vejo uma mulher de costas para a rua, portadora de um "senhor" LOMBO. Não tinha como eu passar rápido e eu olhei mesmo porque era um derrière (traseiro, em francês) muito belo. De fato, não pisei fundo no acelerador e contemplei um pouco mais aquele bumbum que estava dentro de uma bermuda muito curta. Após meu carro se distanciar mais um pouco, vi pelo retrovisor que um cidadão estava de pé, aos berros, gesticulando. Parei, abri a porta do carro, pois meu vidro está com problemas, e bradei em alto em bom som estas palavras ao distinto cavalheiro:

"MEU CAMARADA, SUA MULHER TEM UMA BELA BUNDA E ESTÁ DE COSTAS PARA A RUA EM FRENTE A UMA LOMBADA, E AINDA COM UMA BERMUDA CURTA! QUALQUER UM VAI OLHAR E QUEM GOSTA, COMO EU, VAI OLHAR MAIS UM POUCO. VÁ RECLAMAR COM SUA MULHER!"

Fechei a porta do carro e não dei direito de resposta para o cidadão, até porque o cara era enorme e estou deveras enferrujado nas artes marciais. Em suma, eu ia ser coberto de porrada. Não, no Natal, não!

Beijo nas crianças e um Feliz Natal,
MB

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

De Lá e de Cá (Poema)

Preciso de uma nova inspiração
Uma mulher que me tire o chão
E me faça sentir voar
Flutuar nos ventos da paixão
Sem medo que de lá eu caia
Que eu me sinta seguro na barra da sua saia
Que eu me perca em suas entranhas
Que ela seja agridoce e tenha novos sabores
Que ela seja descompassada
Pra entrar no compasso dos meus defeitos
Que ela seja o sol que brilha após as trevas
Numa homérica odisseia
Não quero muita coisa
Só quero o amor puro e intenso
De lá e de cá

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Música e Eu (Crônica)

Estava, dessa vez, determinado a deixar a música. Fazendo planos pra seguir a profissão que deixei (hoje chamada de Profissional de TI) ou seguir uma nova profissão, iniciando em 2013 uma nova faculdade pra concorrer no mercado ali perto dos meus 40 anos, sem nenhuma experiência anterior. Sabe, chega uma hora na vida que uma canção da minha época de Igreja dizia: "Não dá mais pra voltar, o barco está em alto-mar". Só de pensar em deixar a música, eu começo a sentir cada batida do meu coração doer. Cada pulsação é pura dor, é como se estivessem batendo com havaiana de pau no meu peito. E então começo a ouvir tudo aquilo que eu ouvia quando tinha 8 anos... Voltei ao início pra entender a caminhada toda e descobrir onde eu me desvirtuei. Tudo indicava que eu ia acontecer em breve. Gravei um disco de extrema qualidade, faço a minha arte com verdade e respeito. De repente, tudo "estabacou" e perdi o Norte. Os mais íntimos sabem dos detalhes.

Revisitando tudo o que tenho nos meus arquivos musicais, vi o quanto me abasteci, do que me abasteci e comparei com o que produzi. É bem de acordo, me considero coerente com minhas raízes e com o que faço. Há um certo idealismo, mas a maioria dos artistas dos quais sou fã foram resistentes e, até de certa forma, antagônicos com o que a mídia da época pregava... A mídia, sempre a mídia... Nas mãos de uns poucos. Eu acho a música uma arte tão ampla que não entra na minha cabeça pessoas quererem monopolizá-la e com isso idiotizá-la. O povo não escolhe mais o que toca. É o "investimento" que escolhe o que toca. Músicas com refrões que contêm onomatopeias e até uma simples vogal são a fonte da riqueza de uns poucos. Ok, não quero que essas pessoas parem de ganhar dinheiro. Só quero poder sobreviver com dignidade da minha arte. Não sinto necessidade de mansões, helicópteros, carros. Minha necessidade é apenas de dignidade. Só isso. Já não tiro férias há 7 anos até aqui, mas isso pra mim não doi. Doi é por vezes não ter grana pra me deslocar de casa pra um pequeno show ou grana pra fazer um lanche pós-show porque aquela (pouca) grana que acabei de ganhar já tem destino certo. Doi é receber ligações dos credores e eu não ter resposta pra nenhuma proposta de renegociação com eles. O que eu devo, no geral, tem artista que ganha em um show apenas. E eu teria que fazer uns 30 pra alcançar metade desses lucros.

Hoje tive uma overdose de música na minha vida e vi que somos feitos um pro outro mesmo. Como o barco está em alto-mar, realmente não dá mais pra voltar e então o que me resta é lutar, resistir, persistir... Me resta acreditar que um dia entenderão minha canção, meu canto. Enquanto isso, simplesmente canto onde a música me levar. Quando ela achar que estou pronto pra outro patamar, estarei vigilante para que nenhuma oportunidade seja perdida, pois o mundo artístico, meus caros, é um mundo de muitas poucas oportunidades. 

Ainda tenho forças, obstinação, determinação. Então utilizá-las-ei a favor de mim. É preciso um bocado de "egoismo" e "vaidade", mas não pode passar da medida, senão vira arrogância e a sarjeta é logo ali pros arrogantes.

Não tenho outra alternativa: a Música me escolheu e eu aceitei o desafio. Não vou fugir, até porque essa opção não existe pra mim. É enfrentar ou sucumbir. Então enfrentarei.

Beijo nas crianças,
MB

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Colisão das Ondas (Prosa Poética)

Sinto-me estranho ultimamente... diria que verdadeiramente vazio. As saudades que sinto são de entes queridos. Fugiram-me as vontades mais vorazes que tinha. Não sei se são por culpa dos psicotrópicos ou simplesmente pelo fato de o mundo ter realmente se tornado menos interessante. Tenho evitado criar vínculos, tenho medo. Pouca coisa me interessa, pouca gente me interessa... cada vez menos gente me interessa! E a música, que é o idioma que falo com mais fluência, parece desaparecer de mim. Olho pro meu violão e me sinto, às vezes, incapaz de tocá-lo... ou seria indigno? Não sei, o canto não sai mais alegremente da minha boca. Sai, por muitas vezes, por obrigação ou por necessidade de algo dentro de mim que se perdeu ou que simplesmente perdi a capacidade de enxergá-lo. Meu choro é seco, minha dor é intermitente e sempre volta em lugares diferentes, não me deixa uma pista sequer do seu motivo. Estou perdendo o interesse em mim. Estou pesado, carente e misantropo, um paradoxo. Estou pedindo socorro, mas não sei de que ou de quem. Nem sei se realmente estou precisando de ajuda. Só sei que estou perdendo os meus interesses e ambições. Tenho me agarrado nas pequenas vitórias que conquisto pra sobreviver, pra poder viver, pra querer viver. Estou esfriando por dentro, gelando em processo de criogenia, mas sinto dores no corpo, sinto meu corpo morrendo aos poucos. Sinto-me confuso. Sinto-me bagunçado, fragmentado... Lento... Nebuloso. Não quero a compaixão alheia, tampouco a compreensão. Quero apenas uma coisa: recuperar aquela vontade e orgulho de ser eu mesmo. Não é fácil ser eu, queria poder mostrar de forma prática aos que sentem inveja para ajudá-los. Quero aparecer e quero sumir, muitas vezes ao mesmo tempo. E nessa hora vem uma onda de um lado e uma onda de outro lado, e quando elas colidem, dói. Mas nesse momento de dor, por alguns instantes, consigo saber o que está acontecendo, mas é tão rápido que passa despercebido. Consigo até sentir saudades de quem amei, mas passa. Consigo me interessar pela vida, mas passa. Tudo vem e tudo passa. Confesso ter medo das colisões dessas ondas. A única coisa que controla a minha dor é o momento da escrita. Sei que é uma merda pra quem lê ou ouve esses cantares de lamentações, mas esse sou eu hoje. A colisão das ondas provocou um texto hoje. A cada colisão, uma coisa diferente é provocada. Eu tenho que me tratar, o mundo também tem que se tratar. 

Essas são as minhas loucuras... O abstrato mais concreto de mim. A colisão das ondas... Sei lá se um dia vou me afogar. Sei lá o que vai acontecer. Sei lá se vou viver ou sucumbir. Nada sei, nada sei. Isto é o que sinto agora, nesse dado momento. Fim? Sei lá...

Beijo nas crianças,
MB

sábado, 29 de setembro de 2012

Gélida (Poema)

Nos seus olhos vejo a apostasia do mundo
É tão difícil sentir calor ao seu lado
E eu detesto frio
Sua presença arranha minha garganta
Com tristes canções
E causa-me espirros de melancolia
A sua frieza é tão forte
Que faz-me sentir no Pólo Norte
Em pleno Calçadão de Bangu

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Solitude e Solidão (Crônica)

Ando conversando com muita gente sobre essa coisa de "estar sozinho". Há pessoas que dizem gostar de ficarem sozinhos, no seu mundo. Sou desses. Esse blog, por exemplo, é parte do meu mundo particular. Escrevo o que bem entendo sem me preocupar com a reação alheia. Confundi durante muito tempo da minha vida SOLITUDE com SOLIDÃO. Muita gente confunde, alguns acham que são rigorosamente a mesma coisa. Não são! Solitude é, basicamente, aquele estado de isolamento voluntário e a solidão não é um estado voluntário. Quem diz que optou pela solidão, não compreende o significado dela. Eu vivo as duas coisas, depende do dia, depende do meu "astral". Solidão é uma coisa ruim, muito ruim. Imagina alguém no meio de uma multidão, de pessoas conhecidas, se sentindo só? Isso é triste demais, é a solidão em seu estado mais doloroso. Vivo isso com alguma frequência. Já a solitude, é a opção de ficar só, de se isolar e, principalmente, não ficar triste por isso. Não há tristeza na solitude. 

Gosto, particularmente, de ir sozinho ao cinema. Não saio triste dessas sessões, não fico deprimido quando vejo os casais, quando vejo as pessoas acompanhadas. Isso é solitude. Não gosto de ir a lugares onde conheço boa parte das pessoas presentes e me sinto só, fico triste quando isso acontece. Isso é solidão.

Deixo a pergunta pra vocês, leitores: aqueles entre vocês que dizem gostar de ficar sozinhos, estão no estado de solidão ou solitude? Se a resposta for solidão, recomendo que levantem a poeira e saiam dessa. Se é solitude, bacana, curtam muito a própria presença, mas não é bom, ainda que o mundo esteja cada vez mais fútil e falso, o ser humano ficar só o tempo todo. Nós somos seres sociais. Temos que pensar na fábula dos porcos-espinhos, que num dia de frio uns ficaram separados porque caso se aquecessem, iriam se machucar com os espinhos. Estes todos morreram de frio. Os que resolveram se aquecer entre si, acabaram se machucando com os espinhos dos outros, mas sobreviveram. Sei que essa história é um clichê danado, coisa de livreto de autoajuda, mas é um raciocínio lógico. Alguns clichês são verdades irrefutáveis.

É assim, por hoje, texto curtinho. Vou seguir pensativo no assunto.

Beijo nas crianças,
Marcio Bragança

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tristesse (Poema)

Os versos mais tristes que escrevo
São estes...
Solitárias palavras que nunca irão expressar metade da dor que sinto
Pra uns, é autopiedade... tenho piedade destes
Pra outros, é carência... tenho piedade destes
Pra mim, sou apenas eu, apenas eu
Ninguém precisa me entender
Tampouco me aceitar
Esse mundo de fingimentos me cansa
Essa obrigatoriedade de sorrir me irrita
Ninguém precisa gostar de mim
Nem precisa me respeitar
Não me importo mais, não mais
Dou o direito de se afastar de mim a qualquer um
Eu só quero o direito de ficar triste
E não ter que explicar o porquê disso
Muitos só veem a cara, a embalagem
Julgam livros pela capa
Não preciso destes por perto
Também não preciso de falsos carinhos
Melhor ficar com a companheira solidão
Com quem partilho minhas dores sem machucar pessoa alguma
Não fiquem perto de mim, recomendo
E àqueles que me amam, não se preocupem
Eu vou ficar bem, vou ficar bem...