segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Música e Eu (Crônica)

Estava, dessa vez, determinado a deixar a música. Fazendo planos pra seguir a profissão que deixei (hoje chamada de Profissional de TI) ou seguir uma nova profissão, iniciando em 2013 uma nova faculdade pra concorrer no mercado ali perto dos meus 40 anos, sem nenhuma experiência anterior. Sabe, chega uma hora na vida que uma canção da minha época de Igreja dizia: "Não dá mais pra voltar, o barco está em alto-mar". Só de pensar em deixar a música, eu começo a sentir cada batida do meu coração doer. Cada pulsação é pura dor, é como se estivessem batendo com havaiana de pau no meu peito. E então começo a ouvir tudo aquilo que eu ouvia quando tinha 8 anos... Voltei ao início pra entender a caminhada toda e descobrir onde eu me desvirtuei. Tudo indicava que eu ia acontecer em breve. Gravei um disco de extrema qualidade, faço a minha arte com verdade e respeito. De repente, tudo "estabacou" e perdi o Norte. Os mais íntimos sabem dos detalhes.

Revisitando tudo o que tenho nos meus arquivos musicais, vi o quanto me abasteci, do que me abasteci e comparei com o que produzi. É bem de acordo, me considero coerente com minhas raízes e com o que faço. Há um certo idealismo, mas a maioria dos artistas dos quais sou fã foram resistentes e, até de certa forma, antagônicos com o que a mídia da época pregava... A mídia, sempre a mídia... Nas mãos de uns poucos. Eu acho a música uma arte tão ampla que não entra na minha cabeça pessoas quererem monopolizá-la e com isso idiotizá-la. O povo não escolhe mais o que toca. É o "investimento" que escolhe o que toca. Músicas com refrões que contêm onomatopeias e até uma simples vogal são a fonte da riqueza de uns poucos. Ok, não quero que essas pessoas parem de ganhar dinheiro. Só quero poder sobreviver com dignidade da minha arte. Não sinto necessidade de mansões, helicópteros, carros. Minha necessidade é apenas de dignidade. Só isso. Já não tiro férias há 7 anos até aqui, mas isso pra mim não doi. Doi é por vezes não ter grana pra me deslocar de casa pra um pequeno show ou grana pra fazer um lanche pós-show porque aquela (pouca) grana que acabei de ganhar já tem destino certo. Doi é receber ligações dos credores e eu não ter resposta pra nenhuma proposta de renegociação com eles. O que eu devo, no geral, tem artista que ganha em um show apenas. E eu teria que fazer uns 30 pra alcançar metade desses lucros.

Hoje tive uma overdose de música na minha vida e vi que somos feitos um pro outro mesmo. Como o barco está em alto-mar, realmente não dá mais pra voltar e então o que me resta é lutar, resistir, persistir... Me resta acreditar que um dia entenderão minha canção, meu canto. Enquanto isso, simplesmente canto onde a música me levar. Quando ela achar que estou pronto pra outro patamar, estarei vigilante para que nenhuma oportunidade seja perdida, pois o mundo artístico, meus caros, é um mundo de muitas poucas oportunidades. 

Ainda tenho forças, obstinação, determinação. Então utilizá-las-ei a favor de mim. É preciso um bocado de "egoismo" e "vaidade", mas não pode passar da medida, senão vira arrogância e a sarjeta é logo ali pros arrogantes.

Não tenho outra alternativa: a Música me escolheu e eu aceitei o desafio. Não vou fugir, até porque essa opção não existe pra mim. É enfrentar ou sucumbir. Então enfrentarei.

Beijo nas crianças,
MB

Nenhum comentário:

Postar um comentário