sábado, 2 de fevereiro de 2013

Perdas e Danos (Crônica)

No dia 01 de Fevereiro, por volta de duas horas da manhã, perdi meu avô Pedro, a princípio, pro câncer. Digo "a princípio" porque ao conversar com meus pais, analisando a causa mortis, digo com precisão que não foi o câncer que levou meu avô. O relatório dado pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro não foi claro em dizer a causa da morte. Foram muitas as possíveis causas. Não houve menção direta e objetiva ao câncer. Me pareceu que a equipe médica não sabe o que aconteceu.

A perda é recente, ainda dói demais a falta de vovô. Há nove meses ele deu entrada no HSE-RJ, fez uma cirurgia para a retirada do tumor. A cirurgia tinha sido bem sucedida, segundo os médicos responsáveis e meu avô foi para o pós-operatório para se recuperar. Num determinado dia, ele expeliu uma secreção (vômito) e minha mãe correu para chamar algum(a) enfermeiro(a) para proceder a sucção e ela não foi atendida prontamente, apesar de ter pessoal para fazer o procedimento em tempo hábil. Quando um dos profissionais foi fazer a sucção, a secreção já tinha ido toda para os pulmões de vovô, o que causou a necessidade de traqueostomia para que ele pudesse respirar. O resultado dessa NEGLIGÊNCIA levou meu avô para o CTI, local de onde ele saiu apenas uma vez, mas rapidamente retornou e passou longo tempo por lá antes de falecer.

Minha mãe e minha tia, únicas filhas vivas dele, iam todos os dias ao Hospital, viveram suas vidas em função dele. Mesmo com todo o cuidado na fiscalização dos serviços médicos, elas só tinham duas horas por dia pra realmente verificar o tratamento de vovô. Nas vezes que o visitei, parecia que ele estava sendo bem cuidado, estava lúcido e nos comunicávamos. A traqueostomia, durante um longo tempo, o impediu de falar e nossa comunicação era por leitura labial. O que me preocupava era a perda de peso rápida que meu avô sofreu. Por causa da traqueostomia, ele não podia deglutir, então sua alimentação (?) era feita através de sonda. Essa alimentação (?) se mostrou ineficiente, pois a cada dia meu avô parecia estar mais desnutrido.

A dor, o envolvimento emocional, por vezes cega o entendimento. Aqui vai o meu recado pras famílias que passam por situações semelhantes: Ao detectar erro médico, acionar imediatamente o hospital. Não fizemos isso na época devida. Estávamos todos movidos por uma imensa fé de que o quadro de vovô se revertesse. Minha mãe relatou algumas coisas que ela deveria ter produzido provas. Não vou entrar em muitos detalhes pro texto não ficar ainda mais longo. Vou me ater às duas últimas semanas de vida do meu avô.

Cerca de quatorze dias antes do falecimento dele, os médicos começaram a nos preparar para a morte dele, dizendo que tinham feito tudo o que estava ao seu alcance e que a partir daquele momento, "só a Misericórdia Divina", disse um médico teísta, coisa rara (ou não, sei lá, não estou acostumado a ouvir médicos falando de Deus). Minha mãe viu, nas visitas, ampolas de FUROSEMIDA perto do leito de vovô. Esta substância serve para um bocado de coisas, mas o mais conhecido efeito colateral dela é a BAIXA DA PRESSÃO ARTERIAL. Isso deveria ter sido fotografado à época, sem contar com algumas alterações no corpo de vovô, que vou me abster de relatar. Fotos devem ser tiradas, a fiscalização tem que ser feita com afinco, principalmente em se tratando de SAÚDE PÚBLICA.

Decidimos não processar, decidimos "deixar pra lá", até porque não temos provas cabais de nada e mesmo as tendo, não trariam meu avô de volta. Se ganhássemos dinheiro, seria muito mal recebido por nós. Não somos uma família de gananciosos.

Na minha opinião, meu avô morreu por erro médico, negligência total. Digo que é uma opinião, pois não posso afirmar precisamente que meu avô morreu praticamente assassinado. Não posso afirmar precisamente que as doses diárias de Furosemida foram matando meu avô aos poucos. Posso afirmar precisamente que meu avô morreu DESNUTRIDO, posso afirmar precisamente que meu avô morreu QUERENDO VIVER, de OLHOS ABERTOS, posso afirmar precisamente que meu avô morreu SEM SENTIR DOR (palavras do médico que anunciou o falecimento).

Famílias, muita atenção aos enfermos. Não deixem nada passar. Se errarem, processem na hora! Fazer isso depois que o seu ente querido falecer não o trará de volta. A saúde pública brasileira é LAMENTÁVEL, LASTIMÁVEL e VERGONHOSA.

Beijo nas crianças,
Beijo, vovô! A gente se encontra! Dá um beijo na vovó! Saudades!

MB

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